DiscoverPORTA33 — MADEIRAANTÓNIO GUERREIRO | Identidade(s): Nada, Tudo, Alguma coisa [Parte 1]
ANTÓNIO GUERREIRO | Identidade(s): Nada, Tudo, Alguma coisa [Parte 1]

ANTÓNIO GUERREIRO | Identidade(s): Nada, Tudo, Alguma coisa [Parte 1]

Update: 2011-06-25
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O que queremos dizer quando falamos de identidade? O que significa afirmar "Eu" ou reconhecer um "Outro"? E de onde vem essa afirmação ou reconhecimento? É a identidade a mesmidade? E o que é isso que me mantém o mesmo, perante a evidência da mudança? É a identidade uma unidade substancial e forte ou pura ficção e ilusão? Como se dá a subjectivação no tempo? Um reforço comunitário ou uma criação individual? E quais os perigos dos discursos identitários? E do estilhaçamento do sujeito? Como espelham, os criadores e suas obras, a pergunta pelo "Quem"?

Nestes seminários, a questão da identidade, pessoal e colectiva, será abordada a partir de quatro pontos de vista distintos e complementares. Deste modo, cada reflexão prolongará a anterior, abrindo-a a novos campos.

O percurso: primeiro, o questionamento sobre a noção de identidade pessoal e a constituição, prática e teórica, do si-próprio (Paulo Pires do Vale – 4h); depois, o aprofundamento da articulação entre identidade e temporalidade, a forma como o sujeito se relaciona com krónos e kairòs (José Tolentino Mendonça – 4h); a seguir, a análise do modo como, em certa literatura do século XX, se espelhou (ou formou) a interrogação sobre o Eu: da sua dissociação e dramatização à sua anulação (João Barrento- 4h); terminando com uma crítica dos discursos identitários, reflectindo sobre a influência da comunidade na construção das identidades (António Guerreiro – 4h). No encadeamento destas perspectivas, sublinhar-se-á também a recusa de um ponto de vista absoluto e totalitário, apresentando antes a consciência finita da incompletude, à imagem da própria identidade.

Tal como a identidade, também o título destes seminários é devedor de outros. Remete para as questões e respostas que Jean-Luc Godard apresentou em Histoire(s) du cinéma - obra exemplar para perceber a montagem e sobreposição do diferente como exercício de construção identitária: "Qu'est-ce que le cinéma? Rien. Que veut-il? Tout. Que peut-il? Quelque chose." Mas Godard tinha adaptado aí as perguntas e respostas de Abbé Sieyès, ideólogo da revolução francesa1. Por sua vez, Marie-José Mondzain comentou recentemente as frases de Godard, desdobrando-as numa reflexão sobre a Imagem e a arte. Agora, nestes seminários, parafraseando Godard, alargaremos as perguntas ao campo da identidade, duplicando as dúvidas:

O que é a identidade? Nada?

O que quer? Tudo?

O que pode? Alguma coisa?

1"Qu'est-ce que le tiers état ? Tout. Qu'a-t-il été jusqu'à présent dans l'ordre politique ? Rien. Que demande-t-il ? À y devenir quelque chose".


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